quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

No Fantástico, a reforma agrária não será televisionada

 

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19 de fevereiro de 2011 às 11:01

No Fantástico, a reforma agrária não será televisionada

18 de fevereiro de 2011

por Emanuel Cancella, no site do MST

Noite de 13 de fevereiro. Assistia distraidamente o Fantástico, programa de maior audiência do fim de domingo da televisão. Entre amenidades diversas, de repente começa uma matéria que duraria longos minutos com o objetivo exclusivo de  criminalizar os sem-terra.  A reportagem usou como mote o estado do Mato Grosso. Várias autoridades, como delegado de polícia e membro do Ministério Público, foram escolhidas como fontes para atacar o movimento de luta pela reforma agrária.

A partir da postura criminosa de dois ditos líderes de camponeses pegos em flagrante delito o programa tentou generalizar de forma pejorativa a postura dos sem-terra no estado. Bandidos existem em todo lugar, ou como tenta nos convencer o programa, bandidagem seria monopólio dos pobres? Imagens dos acampamentos com lona preta foram mostradas de forma a imputar ação criminosa a esses camponeses que lutam para ter um pedaço de terra.

Mato Grosso é dos estados brasileiros talvez o que concentra o maior número de latifundiários. Em 2009, o próprio presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (APROSOJA), Glauber Silveira, revelou que 90% dos produtores do Mato Grosso estão irregulares e 50% poderão por conta disso perder as terras.

Além disso, o Brasil é o único país de dimensões continentais que não fez a reforma agrária. O mesmo programa que tenta criminalizar os sem-terra omite a ação dos latifundiários no estado. Mais do que isso, a reportagem dá fala a fazendeiros, mas não entrevista uma liderança nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para que o telespectador possa ter uma outra visão sobre o episódio. São atitudes nada inocente como essa da grande mídia que perpetuam o poder dos latifundiários no país.

A sociedade é a grande vitima desse tipo de política responsável pelo inchaço nas grandes cidades. Além disso, os grandes fazendeiros praticam a monocultura voltada para exportação. Propriedade de poucas famílias, os latifúndios pouco têm a oferecer ao país.

Já a reforma agrária, prevista na Constituição Federal, assentaria milhares de famílias no campo. Poderiam, com apoio dos governos, aumentar em muito a produção de alimentos. Hoje já são responsáveis por mais da metade dos alimentos que frequentam diariamente a mesa dos brasileiros.

A mídia deveria entrar em nossos lares para explicar o que é o latifúndio e a reforma agrária. Infelizmente, o que nós assistimos na telinha da Globo e de todas as emissoras comerciais são ataques ferozes ao que lutam por uma sociedade justa e igualitária, como fazem os trabalhadores sem-terra. Sem a necessária e urgente democratização dos meios de comunicação, a reforma agrária não será televisionada!

* Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ.

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