sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A frágil imagem do competente e preparado

clip_image001Ao fazer a campanha, encontrei uma conhecida que me contou que votaria no Serra porque ele é mais competente e preparado. Expus alguns argumentos que desconstroem essa imagem criada na sua propaganda e reforçada pela imprensa aliada, já há alguns anos. Na falta de tempo para conversar, pois ela estava com pressa, ela disse que ia pensar no que havia dito e me passou o facebook dela para que eu mandasse as informações que fundamentavam minha argumentação.

Os dados que passei para ela, resolvi publicar no Politikei e aproveitar o final da campanha. Pesquisei alguns dos milhares de artigos que publiquei nos meus blogs desde 2010 que pudessem resumir como a imagem de Serra é uma criação de marketing frágil se submetida a pequenas análises.

O caso das enchentes do Rio Tietê no final do governo Serra deixam claro o que quero dizer. O descaso de Serra com a obra herdada de seu antecessor levou São Paulo àquelas imensas enchentes no início de 2010. Lembro que Marta e Erundina eram crucificadas pela mídia quando chovia. Mas apesar das marginais totalmente alagadas por dias em 2010, a culpa segundo a imprensa era da chuva mesmo. Não contaram que Serra havia deixado de realizar a manutenção da obra de Alckmin por 3 anos, deixando metros e metros de terra sobre o leito do rio. Tanto que uma escavadeira caiu, mas não afundou como denunciou o jornalista Luiz Carlos Azenha, em seu blog (aqui).

Esse favoritismo por Serra nos grandes meios de comunicação e por governos tucanos não é produto do acaso. O Blog Nas Retinas fez uma bela análise da distribuição das verbas de comunicação feita por Lula. A verba que era centralizada por FHC em poucas centenas de jornais, revistas, rádios e televisão da Região Sudeste, passou a ser distribuída para milhares de meios de comunicação de porte menor no Brasil inteiro, retirando receita de grandes corporações como Globo, Folha, Veja e Estadão que ganhavam muito com anúncios do governo. Os dados detalhados estão no blog (aqui).

Já, Serra, em São Paulo, assim como o faz Kassab, gasta milhões com a Revista Veja que costuma ser muito grata aos dois, oferecendo capas com destaque em momentos de eleição. Uma propaganda nada gratuita paga com dinheiro público como já publiquei em meu próprio blog (aqui).

Essa relação de Serra e do PSDB com essas empresas de comunicação permite blindagem dos acontecimentos reais de seus governos poupando-os de críticas e permitindo que a imagem da competência e preparo se estabeleça. O próprio Azenha que denunciou a história da escavadeira denunciou a lentidão com que a Folha de São Paulo publicou seis dias depois a notícia em ano que Serra concorria à Presidência (aqui).

Notícias aparecem na grande imprensa sem explicar razões como a Exame (também da Abril de Veja) que anuncia o corte de gastos de Alckmin após receber o governo de Serra e novos gastos com desassoreamento do rio (aqui).
São os blogs progressistas que fazem a releitura e a denúncia sobre as notícias. Alckmin teve de cortar gastos porque Serra deixou o Governo quebrado e o novo gasto com o desassoreamento foi resultado da incompetência ou inconsequência de Serra com as obras de prevenção de enchentes (aqui).

Mas a imagem de competência e preparo não se desmancham apenas em questões pontuais. A totalidade das políticas públicas em governos tucanos são temerárias e levaram à precarização da vida do cidadão. Altamiro Borges, jornalista, blogueiro e liderança no movimento de democratização dos meios de comunicação realizou excelente resgate de como o PSDB desmonta a saúde pública pela terceirização utilizando o sóbrio nome de OS´s (Organizações Sociais) para transferir dinheiro do SUS para o setor privado. A pilhagem do dinheiro público por esses meios pode acontecer sem nenhum controle social e o resultado tem sido a piora da saúde pública (aqui).

Privatização, terceirização, conveniamento e organizações sociais. São vários os nomes que os governos tucanos e seus postes utilizam para transferir dinheiro público para o setor privado. Na educação em São Paulo não foi diferente. Serra e Kassab se utilizaram das creches conveniadas para reduzir o número de alunos em toda a rede. De 2005 a 2012 a rede municipal de ensino passou a atender 268 mil alunos a menos. A rede que devia crescer encolheu. Todas as modalidades de ensino caíram, menos as creches que possuem 75% do atendimento conveniado e realizado por entidades que recebem a verba da prefeitura. Mesmo assim, nesse período a rede atende menos 18 mil crianças na educação infantil. Por isso as creches nunca diminuem a demanda. Não houve aumento de vagas na rede, mas transferências das vagas das EMEIs para as creches para facilitar o conveniamento e diminuir a pressão por vagas no Ministério Público. Mesmo assim, o atendimento foi reduzido e o acesso de crianças menores de 2 anos restringido, pois as creches priorizam o atendimento de crianças mais velhas cujo número por professor é maior. Com Serra e Kassab foi a primeira vez desde que o Censo Escolar passou a registrar os dados que a rede municipal encolheu. Os dados do Censo Escolar e do Portal da Prefeitura foram por mim analisados e publicados detalhadamente em meu blog (aqui).

Quando se fala em segurança pública, a coisa piora. O crescimento do PCC em São Paulo que começa a partir das cadeias coincide com a diminuição dos homicídios. Isso porque a venda de drogas passou a ser a grande fonte de renda para a manutenção do crime organizado. Assaltos com homicídios atraíam muito a ação policial e do governo, enquanto o governo não sofre a mesma pressão para o enfrentamento ao tráfico de drogas. Firma-se um pacto entre Estado e crime organizado, desestabilizado em 2006 com a saída de Alckmin para disputar a Presidência. Como afirma a repórter Fátima Souza, que escreveu o livro "PCC, a facção", em troca de exclusividade em entrevistas, o governo de São Paulo pede aos programas policiais não usem a palavra PCC. A entrevista com a escritora pode ser ouvida no blog do Azenha (aqui).

O assunto deixa o Alckmin bem nervoso, como ficou em 2006 quando questionado pela a tv americana NBC. Ele se retirou da entrevista quando questionado da ação policial desmedida em reação aos ataques do PCC, matando jovens na periferia pela simples suspeita. A reportagem pode ser vista no Youtube (aqui).

Em matéria de escrúpulos e ética, também a imagem de Serra é bem frágil, fora da grande mídia que o blinda. Ele é o personagem principal do Livro "A Privataria Tucana", resultado da investigação e rastreamento de documentos realizados pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr. Com dúzias de documentos obtidos em pesquisas nos cartórios, Amaury rastreia as fraudes nas privatizações comandadas por Serra na era FHC, o favorecimento de amigos, a saída de dinheiro para ser lavado no exterior e o retorno ao Brasil como investimentos. Envolvidos nas armações estão homens de confiança de Serra, parentes, ex-sócio, a filha e o genro. Quando soube que essa investigação iria virar um livro, em 2010 Serra gritava para a imprensa que era o PT investigando seus amigos e que era um "dossiê". A mídia o ajudou bastante a elaborar teses que camuflavam a realidade. O livro lançado em 2011 virou best-seller, mas foi ignorado pela grande imprensa. Um resumo em vídeo passou a circular na internet para romper o bloqueio corporativo (aqui).

A imagem de Serra que vai se desvanecendo aos poucos é um produto de má qualidade por sua própria natureza. Não resiste aos fatos. Nem a mídia a sustenta mais e ninguém defende o voto em Serra, preferindo ocultar ou fazer ataques a seus adversários.

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