terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pesquisa ou propaganda gratuita?

A lei eleitoral no Brasil permite a campanha somente alguns meses antes das eleições. As pesquisas eleitorais, por outro lado, são permitidas e presentes periodicamente anos antes. Não sei se há “pesquisas” sobre sua influência no resultado das eleições. Elas são um mal necessário. Necessário porque orientam as estratégias, organização e alianças dos partidos políticos. Mal porque elas não deveriam influenciar o voto das pessoas, mas provavelmente o fazem. Muitas pessoas com quem discuto, umas mais, outras menos politizadas, têm demonstrado uma crença firme nas pesquisas como um retrato fiel do que vai acontecer daqui há vários meses. Geralmente não leram nenhum artigo ou analisaram seus números. No geral, viram na televisão quem estava na frente, e isso basta. Se isso muda o voto dessas pessoas, não sei.
Não entrarei também na discussão sobre as possibilidades de manipulação dos dados dos institutos que não deixam clara a metodologia, e que tem seu representante mais conhecido, ligado à maior emissora de TV, e com grave denúncias sobre manipulação de dados sobre audiência e controle do mercado bilionário de anunciantes. Ainda, não tratarei o uso tendencioso que a grande mídia faz e a elaboração de suas manchetes.
Pretendo apenas demonstrar que as pesquisas escondem números que se observados e analisados corretamente pela mídia e mesmo pelos institutos, anulariam a força com que as pesquisas tomam forma na cabeça das pessoas, especialmente, quanto a sua capacidade de prever resultados nove meses antes. Vejamos a última pesquisa do Ibope que aponta para um maior crescimento de Dilma, antes uma figura desconhecida do cenário político (para quem não acompanha política), devido, provavelmente à exposição maior na mídia. A ironia é que a mídia buscando denunciar antecipação de campanha ou criar “novas crises” do governo, a tornou mais conhecida, associando sua imagem à de Lula que tem o recorde de 80% de aprovação. Serra sabe o verdadeiro significado das pesquisas, e por isso, não definiu se será candidato a Presidente ou Governador. O interessante é que os eleitores que crêem em pesquisas tem certeza que ele é candidato è Presidência, quando os próprios tucanos já não sabem. Por isso, Serra se esconde do confronto com Lula, de ser associado a FHC, de suas associações com o Arruda preso e o Kassab cassado, ou de ser responsabilizado pelas mazelas paulistas. Pois, além da Globo, da Folha e da Veja, dentre outros, Serra conta com o fato de ter seu nome conhecido pela candidatura de 2002, o que o tem mantido no topo das pesquisas, porém, não mais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Mas o que mais interessa não está na pesquisa em que se apresenta aos pesquisados uma lista dos candidatos. Com ou sem Ciro, ou Aécio, ou quem quer que seja. Os números interessantes estão escondidos na pesquisa espontânea, quando é perguntado em quem o entrevistado iria votar, sem lhes oferecer opções. Em segundo lugar, há empate técnico entre Serra (10%) e Dilma (9%), seguidos de longe pelo Tucano Aécio Neves (3%), enquanto os outros presidenciáveis não passam de 1%. O primeirão é Lula, com 23%. E os que não escolheram ninguém chegam a 52% no Brasil e 63% na Região Sul, onde são mais numerosos. Não importa a renda, tem muita gente que não sabe que Lula não pode ser candidato. Tem 13% na faixa de mais de dez mínimos, e sobe para 15%, 21%, 26%, até chegar a 29% na "faixa do Bolsa Família". Imaginem quantos desses que querem votar no Lula ou que não decidiram, quantos poucos sabem mesmo quem são Serra e Dilma. Quando lhes apresentam uma cédula sem Lula, eles tendem a votar em quem mais conhecem. Serra e Ciro sobem.
Mas o que os tornaram conhecidos? A campanha eleitoral. Em especial, a propaganda eleitoral gratuita. Por mais que as pessoas reclamem, essa tem se mostrado realmente fundamental para a decisão dos eleitores. Ou melhor, quando chegar a eleição, se votarem em Dilma, Serra, Aécio ou Ciro, eles saberão de quem se trata, e porque votaram, ao menos com base no que viram na TV. Por isso, querer prever as eleições antes da campanha, a partir de pesquisas, é inútil. Elas servem aos partidos, não a nós, eleitores. O que podemos é imaginar a campanha em si. Aposto que teremos dois discursos principais: um de continuidade deste ciclo de crescimento que o Brasil consolidou, só que agora com maior sustentação e apoio para saltos ainda maiores; o outro discurso, eu não sei. E pelo que parece, nem os adversários de Lula.

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