segunda-feira, 20 de setembro de 2010

“A queda” de Serra, versão do jornal espanhol El Pais | Viomundo - O que você não vê na mídia

20 de setembro de 2010 às 12:56

A surpreendente queda de Serra

O candidato social-democrata à presidência do Brasil e grande rival da aspirante do partido de Lula, Dilma Rousseff, passou de favorito a um futuro grande perdedor

SOLEDAD GALLEGO-DÍAZ (ENVIADA ESPECIAL) – São Paulo – 20/09/2010

No El País

Competir contra Dilma Rousseff, herdeira de Lula, é tarefa difícil, mas  os erros em que incorreu José Serra durante sua campanha como candidato do PSDB (Partido da Social Democracia do Brasil) são tantos que a dúvida já não é se perderá as eleições de 3 de outubro, mas se sofrerá uma derrota tão humilhante que será desnecessário o segundo turno.

Se assim for, Lula, Dilma e o Partido dos Trabalhadores (PT) acumulariam uma enorme porção de poder, o que preocupa a muitos dirigentes da oposição brasileira. “Sem uma oposição forte”, tem denunciado reiteradamente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “o Brasil corre risco de converter-se em uma democracia popular e Lula, de adquirir o perfil de um caudilho”.

Serra, de 68 anos, o bem sucedido governador de São Paulo que passou toda sua vida se preparando para esse dia e esse cargo, pode enfrentar agora não só um fracasso eleitoral, mas o fim de toda a sua carreira política. Sofre críticas não só sua escassa capacidade de transmitir otimismo, em sintonia com o formidável estado de ânimo do Brasil –  como demonstram Rousseff e, sobretudo, Lula –, mas também haver colocado em marcha uma campanha “suave”, totalmente errada.

As críticas chegam de vários setores de seu próprio partido, que não entendem porque ele se negou a utilizar a figura política do ex-presidente Henrique Cardoso, do mesmo partido, e promoveu, ao contrário, a ideia de se apresentar como o verdadeiro herdeiro de Lula. O grande equívoco de Serra foi pensar que lançar-se contra o presidente mais popular da História provocaria uma reação contrária. Mas uma coisa é propor um lema neutro, como “O Brasil pode mais” (que acaba de ser substituído por “É hora de mudança”) e outra utilizar a figura de Lula em seus próprios espaços publicitários na televisão. Os brasileiros viram com assombro e em muitos casos com regozijo que a imagem de Lula aparecia também junto a Serra e interpretaram corretamente o grande sinal de debilidade que isso demonstrava.

No Brasil quase não existem outdoors eleitorais. Nas ruas da gigantesca São Paulo, por exemplo, não se vê a publicidade política que inunda outras cidades latinoamericanas e europeias e isso apesar de que no dia 3 será eleito não apenas o presidente, mas também 27 governadores, 513 deputados, dois terços dos 81 membros do Senado e mais de mil cargos locais (os futebolistas Romario e Bebeto, por exemplo, são candidatos).

Uns poucos cavaletes portáteis, alguns cartazes pequenos e pouco mais, testemunham que está em marcha uma importante campanha eleitoral. A verdadeira batalha se desenrola em comícios, nos espaços gratuitos das cadeias de televisão e nos debates presidenciais. Nesta ocasião, os candidatos, conhecedores de que 31 milhões de brasileiros são membros de redes sociais, aceitaram inclusive um debate exclusivo na internet. É nas ruas onde José Serra perdeu as eleições frente a um presidente, Lula, que não é candidato mas que atua como se fosse, e na televisão onde Dilma demonstrou que é algo mais que a candidata de Lula.

As coisas chegaram a um ponto que alguns dirigentes do PSDB admitem que estão mais interessados no que ocorre em Minas Gerais e São Paulo (os estados mais populosos do Brasil) que na eleição presidencial. Em São Paulo, procuram ver se Geraldo Alckmin, do setor mais direitista do PSDB, consegue uma vitória que permita a ele reclamar mais protagonismo no partido. Alckmin, de 58 anos,  médico, perdeu em 2006 contra Lula e poucos confiam nele para relançar o partido. Mais probabilidades teria o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de 50 anos, neto de Tancredo Neves, o primeiro e muito querido presidente democrático do Brasil depois da ditadura militar, que não pode tomar posse porque morreu dias depois de ganhar a disputa.

Neves é considerado como um dos grandes valores do PSDB, ainda que tenha perdido a disputa interna frente a Serra e tenha optado por ser senador. Para incrementar seus poder pensando na disputa presidencial de 2014 precisa que a pessoa que escolheu para sucedê-lo em Minas Gerais consiga uma vitória clara. Não será fácil porque Lula, com um olfato imbatível para detectar desafios, está envolvido numa dura batalha, dando apoio a um ex-ministro.

O futuro de Serra está pendurado por um fio. Nos 15 dias que restam, sua equipe está tentando uma virada completa. Trata de tirar rendimento de um escândalo de corrupção que provocou a demissão de Erenice Guerra, ministra chefe da Casa Civil (chefe de gabinete) e braço direito de Rousseff durante muitos anos. As pesquisas seguem sendo, de qualquer forma, demolidoras. Segundo a última, realizada pelo Ibope para a Globo, 51% para Dilma, 25% para Serra e 11% para a ex-ministra de meio ambiente Marina Silva (Partido Verde), que parece estar colhendo melhor que o próprio Serra as repercussões do escândalo.

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