Sem férias coletivas? E agora?
A decisão do TJ de São Paulo, no último dia 26, de proibir férias e recessos em CEIs e EMEIs irritou muito os profissionais da educação infantil. A revolta parece ter sido mais sentida nos CEIs. Isso porque a conquista de direitos garantidos pela Constituição desde 1988 não se refletiu no dia-a-dia, em que o reconhecimento como primeira etapa da educação básica tem sido de luta permanente nas últimas décadas. Demoramos muito para garantir o direito das férias coletivas nos CEIs e o recesso em dezembro. Sequer conquistamos o recesso em julho como há tempos acontece nas EMEIs. E qualquer um acha que pode definir o que o professor da primeira infância faz. O ataque assistencialista dos desembargadores foi fruto de quem nem se importou com a defesa feita pelos sindicatos e governos, e talvez, de quem sequer leu a posição do Conselho Nacional a favor das férias coletivas.
Foi um ataque de puro preconceito. Preconceito contra a população que usa creche, contra as crianças que lá frequentam e contra o trabalhador da educação infantil. Cuidadores, limpadores ou sabe lá o que pensam esses representantes da elite, que se julgam aplicadores da justiça, é assim que o profissional da educação infantil é visto por eles e por boa parte da sociedade. Em um país de herança escravocrata, educar e cuidar dos pequenos é tarefa de menos valor que deve ser mal paga e não tem uso intelectual, assim o pensam. É pelo mesmo motivo que demoramos para ter horário coletivo e que não é cumprida a lei do piso que garante 1/3 da jornada para atividades extraclasse. É por isso que o tempo de ADI não serve para nada, nem para evoluir, nem para aposentar. Roubam-nos nossa história e por isso, nossa identidade. E cada vez que tentam nos reinventar como apenas “aqueles que cuidam de crianças”, cada vez que tentam reduzir o significado do cuidar e educar bebês, sempre que ridicularizam nossa história, matam nossa infância de hoje e atrasam o desenvolvimento de amanhã.
A mobilização dos professores no dia 28 foi marcada por essa angústia e revolta. Algo que não estava em pauta passou a permear e protagonizar o coro de reivindicações. A greve marcada para 02 de abril é fruto dessa raiva e alimentou a vontade de luta. No ano passado o governo enrolou com a história de que ia entrar na justiça. O SINDSEP perguntava há um ano: “E se perdermos?” Há recurso jurídico para ser julgado, sim, mas isso mantém a mesma pergunta. O que o governo ainda não respondeu, com certeza, cabe dizer agora. O parecer do Conselho Nacional de Educação deixou clara a diferença entre direito à educação infantil e atendimento à infância. Mas ambos são responsabilidades do poder público. Não cabe aos professores e gestores educacionais resolver o problema que o governo empurrou para a sociedade e que a justiça devolveu. Atender a infância em janeiro, julho e dezembro, é tarefa que cabe à administração compartilhar com os setores da assistência social, cultura, esportes e lazer. Essa é a resposta que deve o governo Kassab garantir mediante a greve decretada.
O SINDSEP e seus dirigentes têm sido constantemente procurados para opinar sobre a greve da educação. É claro que apoiamos a greve, mesmo que não tenha sido iniciada por nosso sindicato. Afinal, o governo não deu uma resposta sequer. Nem para as questões salariais da carreira da educação nem para a integração dos Agentes de Apoio e AGPPs prometida nas negociações com o SINDSEP. Apesar desses motivos já serem o bastante para justificar nosso apoio, há mais. Nosso sindicato nasceu há 25 anos da unidade de várias associações. Uma das mais importantes nessa luta foi a dos profissionais de creche e da assistência social. Vivemos essa história, trouxemos esses profissionais para educação. E lá brigamos constantemente contra o desrespeito com que são tratados Agentes de Apoio, ADIs e PEIs. Impossível não apoiar e não ajudar na cobrança de respostas, já!
SINDSEP-SP
Parabéns ao SINDSEP, por essa maravilhosa explanação! Perfeita em suas colocações!
ResponderExcluirAnna Luiza Roveda - PEI
Fantástica as colocações de vcs, a imprensa em geral deveria vincular esse informativo, para que a população entenda que nós professoras de CEIs não somos suas inimigas mas sim, estamos lutando a favor de nossos direitos e tbém para que não haja um retrocesso nesse país. Obrigada SINDSEP. Vcs foram ótimos.
ResponderExcluir