domingo, 8 de agosto de 2010

Debate eleitoral da Band: Onde os candidatos podem melhorar | Viomundo - O que você não vê na mídia

7 de agosto de 2010 às 16:19
por Luiz Carlos Azenha

Finalmente pude assistir a todo o debate da TV Bandeirantes, na rede. Pelo que li aqui e ali, muita gente ficou frustrada com a qualidade e a profundidade da discussão. Senti uma pontinha de frustração antecipada do pessoal do Vermelho, por exemplo, neste editorial. Atribuam o esvaziamento ideológico ao que vocês quiserem. Pessoalmente acho que a “modernização conservadora” no Brasil entrou em um novo patamar, que liga PT e PSDB tendo o PMDB como fiel da balança. O consenso é de que precisamos promover a inclusão social sem mexer no essencial: na concentração da terra, dos meios de comunicação e nos que nos alugam dinheiro. Isso se refletiu no debate.

Minha análise do debate não considera se o que os candidatos disseram é ou não verdadeiro, se é ou não factível, se eu acho certo ou errado. Acredito que os leitores do site são suficientemente informados para tirar suas próprias conclusões. Aliás, eu mesmo fui influenciado por aqueles que deixaram comentários a respeito do debate no Viomundo nos últimos dias. Vamos lá:

Plínio de Arruda Sampaio – Tenho uma amiga editora de TV que diz:  “Na TV, é preciso didatismo. É preciso levar o telespectador pela mão”. Desse ponto-de-vista, Plínio se saiu melhor. O causo que ele contou teve início, meio e fim. Ele fez uma proposta em sua primeira intervenção. E ao longo do debate foi lembrando o público da proposta inicial. Até amarrar tudo no fim. Conversou com o telespectador. Olhou diretamente para a lente da câmera. Olhar para a lente é importante e eu explico mais tarde. Discordem ou não do candidato do PSOL, ele conseguiu explicar o que pretende de forma didática.

Ponto alto: definiu Marina Silva como ecocapitalista, se apresentando assim como a verdadeira alternativa à polarização Dilma/Serra

Ponto baixo: a referência a um “camponês” que estaria vendo o programa

Marina Silva — Não conseguiu explicar de forma convincente o seu projeto. Sabemos que ela não é Dilma, nem Serra. Mas, e aí? Não basta criticar a polarização para se colocar como alternativa aos demais. Mas estava segura.

Ponto alto: Quando falou que graças ao Mobral pôde se educar, aos 16 anos. Mas faltou explicar ao público jovem o que foi o Mobral. Foi o “momento Lula” de Marina. Lembrem-se que Lula, aos olhos de grande parte da população brasileira, encarna hoje o exemplo do “Sim, podemos”, de quem ascendeu da base da pirâmide social.

Ponto baixo: O poema do menino Dado, na despedida, reforçou no público o “exotismo” associado a Marina. A não ser que Marina tivesse combinado antecipadamente com a mídia para tornar o menino Dado um personagem da campanha. A ver.

José Serra – Estava nervoso no início e abatido. Foi bem na tentativa de diminuir as conquistas do governo Lula, ligando-as a programas já existentes nos governos dos quais participou como ministro. Presumo que tenha sido uma vacina antecipada contra uma possível tentativa de adversários de pendurar FHC no pescoço dele. Foi bem na tentativa de minimizar programas bem sucedidos de Lula, como o renascimento da indústria naval, no que Dilma Rousseff colaborou ao não confrontá-lo de forma mais contundente e didática. Foi bem na tentativa de assumir parte do crédito pela criação de empregos, no que Dilma Rousseff ajudou por não ter sido mais clara ao comparar os períodos FHC-Lula. Foi bem ao se dissociar das privatizações, primeiro com a proposta de que vai “estatizar” os Correios e depois, no fim, ao sugerir que foi exilado por defender a Petrobras e a reforma agrária. Se o que Serra disse soa verdadeiro ou não junto ao público, são outros 500.

Ponto alto: “Momento Lula”, quando lembrou sua origem humilde.

Ponto baixo: O homem que defende as APAEs e os mutirões da saúde. É pouco para quem tem um currículo tão amplo; “crueldade” não combina com “governo Lula” na cabeça do eleitorado.

Dilma Rousseff: Nervosa no início, melhorou mais adiante. Para uma estreante, não foi um desastre. Sobre os mutirões da saúde, disse “política estruturante”, quando poderia ter dito que não quer tornar permanente um “quebra-galho”, que mais importante é construir clínicas e hospitais para atendimento contínuo. Falou em “taxas asiáticas”  no crescimento do número de empregos (que bicho é esse?). Falou em “acessibilidade” para os portadores de deficiência, sem explicar o conceito. Falou em “cirurgias eletivas”. Em “progressão automática e continuada”. Em “comunidades terapêuticas” e “protocolos estabelecidos”. Em “spreads elevados” e “interiorização” das universidades. Às vezes soou como uma burocrata. Não conseguiu materializar na cabeça de quem assistiu as conquistas sociais e humanas que diz representar. Foi vaga quando tratou de um “governo anterior” que os jovens já nem sabem qual é e, se pretendia, não estabeleceu a relação de Serra com aquele “governo anterior”.

Ponto alto: Quando disse que o governo Lula criou riqueza no campo apoiando a agricultura familiar e comprando a safra para a merenda escolar. Ou seja, fez um encadeamento simples de medidas que o telespectador acompanha sem grandes viagens mentais. Isso é importante porque o telespectador não pode parar para pensar num debate que segue um ritmo alucinado e onde não há tempo para explicar melhor as ideias ou aprofundar a discussão. Quanto menos conceitos complexos que exijam abstração, melhor.

Ponto baixo: Dilma às vezes dá ênfase ao que fala com movimentos laterais de cabeça. Além disso, consultou várias vezes material escrito. Isso reduziu o tempo de contato visual da candidata com a lente da câmera. As mãos dela estavam ausentes. Não sei se foi esse o problema, mas como míope eu sei como é complicada a relação com a câmera. É preciso olhar para a lente, não para a luz vermelha que fica sobre ela, nem para o relógio que conta o tempo e fica abaixo ou ao lado da lente. Candidatos que mexem exageradamente as mãos costumam segurar uma caneta, caso de Plínio.

Um bom uso das mãos para um candidato que quer enfatizar o que diz (olhem os olhos de Plinio, diretamente na câmera):

Um bom uso das mãos para um candidato que quer dizer que está falando de coração (Dilma não parece olhar diretamente para a lente e o enquadramento cortou as mãos da candidata):

Debate eleitoral da Band: Onde os candidatos podem melhorar | Viomundo - O que você não vê na mídia

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