quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O presente das nossas crianças

por Eduado Guimarães, Blog da Cidadania

Sempre que começo a escrever sobre o capitalismo me sinto um ET, um ser de outra galáxia que acaba de pousar neste planetinha minúsculo perdido no meio da Via Láctea, pois a inevitabilidade do sistema, a crença messiânica em que representa o fim da história, a constatação resignada de que não haveria outro caminho, tudo isso deixa um travo na boca, um aperto no coração, a sensação de que a humanidade está condenada a se tornar mero alimento do capital. E todos sabem como os alimentos terminam…

Pensamos assim, que o homem é que possui a riqueza material e não o contrário apesar de que, em verdade, não percebemos quem possui a quem. Não conseguimos identificar a verdade imutável de que é o capital que possui o homem apenas porque, desde crianças, somos doutrinados a vê-lo em ação como se fosse manifestação de amor, de carinho, de desvelo, de doação àqueles que, por razões menos altruístas e mais do que tudo sociais, temos a obrigação social, moral e até genética de cuidar até que se possam cuidar sozinhos.

Tudo começou nas últimas décadas do século XX, quando o salto tecnológico da humanidade alcançou as raias do impossível e, de lá para cá, as mídias passaram a construir seres que podem ser teleguiados por corporações, se não nos valores fundamentais como religião ou política, ao menos no instintivo, onde o desejo de consumir é alimentado graças a mensagens subliminares que a comunicação nos implanta no quadrante inconsciente das personalidades.

Repare bem hoje nas famílias que deveriam estar celebrando o dia dedicado às suas crianças. Fique de olho em como aqueles que herdarão o mundo que estamos criando serão contemplados com avalanches de brinquedos, alguns mais caros – para os contemplados pela “magia” injusta do capitalismo – e outros “baratinhos” – para os aspirantes a entrar para a ordem restrita dos eleitos –, mas todos, sem exceção, substitutos do amor, do carinho e da atenção que são o que pedem esses seres que ensaiam os primeiros passos na estrada da vida.

Entrega de presentes, beijos, abraços, certa condescendência com o que não seria admitido em outros dias, passeios, cinema, restaurantes ou lanchonetes, comida insana e, ao fim, esquecimento, enquanto os familiares adultos se voltam a si mesmos sem jamais terem ido além da casca dos sentimentos das crianças, não as ouvindo e sentindo, não buscando conhecê-las, saber para onde seus corações e mentes estão indo e, daí, a surpresa quando crescem e descobrimos que jamais as conhecemos.

O capitalismo é, também, comodismo. Ante a “estafante” missão da paternidade, pais robotizados e filhos em processo de robotização fazem um pacto cínico de dar e receber não os sentimentos, os valores fundamentais do homem, a atenção, a cumplicidade, o compartilhamento, a adição ou a multiplicação familiar, mas, tão-somente, a subtração e a divisão…

O presente de que nossas crianças precisam não pode ser comprado. E não é caro. Temos disponível no reduto do inconsciente que faz com que nos questionemos, mesmo que por um instante, quando, por egoísmo, não damos aos filhos o que todo ser humano tem a dar, impedidos que estamos de entender que o ideário capitalista nos convenceu de que podemos nos poupar do trabalho de revolver os corações para encontrar o único presente que importa àqueles que colocamos no mundo.

image711

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro Visitante,
Publicaremos todos os comentários e opiniões que não sejam considerados ofensas, calúnias ou difamações que possam se reverter em processo contra os autores do blog.
Após publicados, os comentários anônimos não serão mais removidos.
Comentários identificados pela conta ou e-mail poderão ser removidos pelo autor ou a pedido.
Gratos,
Os editores.