quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Orlando Silva e a marola do UOL

Por Luis Nassif, em seu blog:
Um dos principais recursos nas campanhas midiáticas é sufocar o leitor com uma série infindável de manchetes com supostas denúncias. Mesmo que, analisadas individualmente a maioria se mostre inconsistente, atinge-se o objetivo de aumentar a marola e sufocar o alvo.
Tome-se a denúncia que acabou de ser publicada pela UOL, sobre a compra de um terreno em Campinas por Orlando Silva, que "poderia" ser desapropriado pela Petrobras.
Denúncia 1 – a Petrobras teria desapropriado parte da propriedade, antes da venda para o ministro, pagando ao proprietário um preço maior por m2 do que aquele pago ao ministro.
A petrolífera pagou R$ 5,96 pelo m², enquanto para o ministro cada m² custou cerca de R$ 4.
A desapropriação de parte do terreno foi para construir uma servidão de passagem. Não é necessário ser consultor imobiliário para saber que terreno cercado por servidões de passagem perde valor.
Denúncia 2 – Orlando fez negócio da China.
Orlando fez um negócio da China em comparação com os terrenos à disposição no mesmo condomínio. Sem dutos por perto, as propriedades custam entre R$ 15 e R$ 20 cada m², de acordo com um corretor consultado pela reportagem. Nessa área, um terreno de 20 mil m² está sendo oferecido por R$ 380 mil, quase a mesma quantia paga pelo ministro em 90.000 m².
Denúncia 3 – Orlando não fez um negócio da China
Apesar de poucas casas por perto, o lote escolhido pelo ministro não favorece quem busca tranquilidade para passar os finais de semana com a família. Fica em frente a um pesqueiro, o que provoca grande movimentação aos sábados e domingos. O local é de acesso razoavelmente difícil, com um trecho de 9 km em estrada de terra.
Ou seja, o ministro pagou menos por um terreno que vale menos, porque com servidões de passagem e em frente a um pesqueiro movimentado e com 9 km de estrada de terra para se chegar a ele. E se é princípio de todo condomínio ter as estradas internas asfaltadas, como se explica a afirmação de que o terreno está no condomínio e o acesso a ele é por 9 km de estrada de terra?
Cadê o escândalo, então, cadê o negócio da China?
Denúncia 4 - Orlando está escondendo a propriedade do terreno por não constar seu título de ministro na relação de condôminos.
Para chegar ao terreno, precisou passar pelo portão 3 do Condomínio Atibaia. Na parede da portaria, foi colocado um papel com o nome de todos os moradores. À caneta, por serem mais recentes, aparecem Silva Júnior e Ana Cristina. A patente ministerial não aparece.
Aí se envereda por um jornalismo de suposições impossível de levar a sério. Ele teria pagado menos (por um terreno que vale menos) porque no futuro, algum dia, quem sabe, a Petrobras irá desapropriar o terreno ou parte dele (que ela já desapropriou para construir a servidão de passagem) e talvez, quem sabe, pagar um preço maior pela desapropriação.
Está difícil fazer jornalismo hoje em dia.

Postado por Miro

image

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro Visitante,
Publicaremos todos os comentários e opiniões que não sejam considerados ofensas, calúnias ou difamações que possam se reverter em processo contra os autores do blog.
Após publicados, os comentários anônimos não serão mais removidos.
Comentários identificados pela conta ou e-mail poderão ser removidos pelo autor ou a pedido.
Gratos,
Os editores.