quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Rei do Terror

Eu disse que ia ficar pior (leia A baixaria desce a Serra!).

A estratégia não é novidade. No Brasil pós ditadura militar, ainda ingênuo, era comum ouvir pessoas dizendo que tinham medo de votar no Lula e no PT porque não queriam ter de dividir a casa com outra família. O boato sobre esse suposto método “socialista” de resolver o problema habitacional era espalhado pelas forças da direita.

Mesmo naquela época parecia uma estratégia boba, mas em um país que perdera a experiência democrática por tantos anos, funcionava. Porém, hoje, segunda década do segundo milênio cristão, como explicar um candidato que se diz experiente (ao menos em eleições, deveria ser)legitimando como estratégia de marketing o convencimento do eleitor em não votar em alguém por medo. O medo costuma ser a ferramenta dos autoritários e dos terroristas, para manter ou para enfrentar o poder. O medo é o sentimento mais primitivo. Compartilhamos com os répteis a mesma estrutura no cérebro que dispara reações de fuga ou ataque em nós ou nos crocodilos. Evoluímos e desenvolvemos áreas no córtex que nos permitem a racionalidade que nenhum outro mamífera possui. Por sua ancestralidade e por questões de preservação, o medo é capaz de frear a razão. Por ser mais simples e necessário ele é disparado antes que pensemos. Por isso as fobias e a inutilidade de sabermos que um filme de terror é apenas um filme. Mas a razão pode curar fobias, e assistir um filme duas ou mais vezes dissipa o medo.
Segundo a previsão feita em 2010 pelo profeta do apocalipse, José Serra, o Brasil ia acabar em 2012 se Dilma fosse eleita, e ele, o Salvador.
Mas como explicar a estratégia de Serra em 2010 contra Dilma? Ele foi capaz de distribuir um vídeo há uma semana do segundo turno daquele ano que previa um futuro apocalíptico para o país caso a guerrilheira Dilma fosse eleita. Como na sua propaganda da tv, ele poupava Lula, por mero oportunismo, como lhe é peculiar. Quem tiver a paciência de assistir, vai ver o quanto o material soa ridículo, apesar de bem produzido. Talvez tenha surtido efeito em algumas pessoas naquela época em que a grande mídia ostentava maior poder ao auxiliar seu candidato. Hoje é só isso: ridículo.
Mais terror se Dilma fosse eleita
Da mesma forma, ridículos foram os ataques finais da campanha oficial do Mestre do Terror. O vídeo ao lado, com ícones criados pela Revista Veja, amiga de Serra e do Cachoeira, mostrava como Dilma e o PT iam acabar com o Brasil. Segundo os marqueteiros de Serra, era Lula que impedia o PT de acabar com o país, mas com Dilma não ia dar mais para segurar os petistas. Aliás, ela ia trazer os mensaleiros cassados de volta.
 

A mídia fazia campanha para Serra que usava seus ícones na Campanha
 
Hoje parecem ridículos os argumentos de Serra em 2010, já que o país continua em crescimento, bem avaliado no exterior, Dilma bem avaliada no país e o Governo Federal não interferiu no STF e na Procuradoria Geral da República como fazia FHC (leia a matéria de Paulo Henrique Amorim: “Os juízes do Lula e da Dilma. Por que votam contra eles?”).
Então, como Serra permanece com as mesmas estratégias?
A primeira tese, a do simples desespero, poderia explicar. Mas por quê a insistência em um formato de campanha que não tem surtido outro resultado que não o reverso do esperado?
Como seria a propaganda de Serra com cenas reais?
A segunda hipótese é a da fragilidade de sua plataforma. Serra há muito tempo não convence mais ninguém. Sua competência foi desmascarada por sua passagem no Estado e na Prefeitura e a sua propaganda parece mostrar outra cidade muito diferente de São Paulo. A desaprovação de Kassab desmonta qualquer argumento de quem queira dar continuidade.
Talvez não existisse mais nada a Serra que não atacar, atacar e atacar. Mas como os ataques parecem  aumentar sua rejeição, seria burrice?
Saul Leblon na Carta Maior (Serra está entregue às togas) busca explicar também o esgotamento do repertório do tucano e descreve que a soberba é o seu ponto forte, pelo menosprezo que destinou à importância de uma plataforma consistente para concorrer em SP. O raciocínio político tosco seria outro traço que os próprios amigos da Unicamp creditam a ele.
Agora, FHC está incomodado e já questionou o “conservadorismo” de Serra. De tão soberbo, Serra é o grande responsável pela falta de oxigenação do PSDB, tão necessária e sabiamente percebida por Lula ao preferir Dilma e Haddad a antigas lideranças nas disputas de 2010 e 2012.
Mas, eu acrescentaria que Serra além de soberbo, é incapaz de compreender os eleitores no momento da eleição e os cidadãos depois de eleito ou de derrotado. Serra acostumou-se com certo público cativo de São Paulo que tem garantido votos a si e a outros tucanos e associados, por mais lastimável que estivesse o país, o Estado ou o município sob suas administrações na última década.
Essa parcela da população sequer defende o indefensável voto em Serra. Opta por adotar o estilo de seu candidato, atacando adversários com chavões marqueteiros ou midiáticos do momento, por mais inverossímeis que sejam. Muitos nem admitem o voto em Serra e se dizem apartidários apesar da fidelidade. Será a opção desse conjunto de cidadãos por Serra baseada nesse medo ingênuo do PT. Medo, sim. Ingênuo, não. O medo não está em um Brasil apocalíptico, pois já viram que não aconteceu. Muito pelo contrário.
Seu medo do PT também não está baseado, como afirmam, na defesa de um país sem corrupção, pois essas pessoas não são ingênuas. Sabem quem são Serra, Kassab e as figuras do PSDB, DEM ou PSD. Sabem que seus candidatos não são alternativas éticas.
O medo real e que os move é o da mudança e do rompimento. Cresceram em um país que lhes garantiu privilégios na medida que suas conquistas pessoais se deram em um sistema absurdamente desigual. Ignoram completamente as condições sócio-históricas e atribuem suas conquistas a méritos próprios. Distribuição de renda, programas assistenciais, urbanização de favelas, reforma agrária, cotas nas universidades são termos, esses sim que trazem o medo. Pânico que se concretiza na visão da classe C com seus hábitos próprios, comprando carros, frequentando praias, shoppings e aeroportos. Pobres morando na região central. O filho da empregada fazendo universidade e ela cobrando cada vez mais caro para trabalhar. Como será o mundo de seus filhos, pensam eles. Quem sobrará para limpar os banheiros? Esses são os verdadeiros medos.
Mas como o país há séculos se constituiu para poucos, aqueles não são a maioria. Ainda assim, Serra insiste no mesmo discurso de medo para todos, pois subestima os eleitores de quem quer tirar os votos, como despreza o cidadão para quem deveria governar. Serra não percebe que o medo passou e que a Globo, a Folha, a Veja já não tem o mesmo poder, a não ser o de reforçar e alimentar o discurso de seus cativos, uma minoria. Serra não enxerga que esse discurso do terror não se fundamenta. Lula e o PT, e agora também Dilma, começam a se consolidar a cada eleição, não como as representações e estereótipos construídos pela grande mídia e pelos partidos de direita, mas como representantes de um grande projeto de inclusão social e econômica e de políticas sociais para garantias de direitos básicos. Como diz o título dado por Paulo Henrique Amorim, em seu blog, ao artigo de André Singer na Folha sobre o alinhamento do voto dos mais pobres com os candidatos lulistas, “o pobre não é bobo”. Começam a diferenciar a cada pleito, as diferenças entre dois projetos que se acumulam na experiência eleitoral e na vida do cidadão. Então, apostar no medo como estratégia, não é só inócuo, mas um amplificador da rejeição a Serra. Mas assim como a grande mídia, Serra não enxerga quem é esse eleitor, o subestima e o trata como idiota. Se é para ter medo de alguma coisa, é do próprio Serra, um coronel que deita-se com o povo apenas quando lhe quer usar.

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