Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
O Cafezinho inicia o ano com mudanças. Agora todos os posts têm algum conteúdo livre. A primeira análise de mídia vem mais concisa e publicada cedo, por volta das 7 horas. Os outros posts serão publicados até o meio dia.
Nas últimas semanas do ano passado, os jornais publicaram alguns textos pesadamente oposicionistas, a maior parte deles ainda refletindo as emoções despertadas com a publicação do livro Privataria Tucana. Refiro-me, especificamente, aos textos quase histéricos de Merval Pereira e Marco Antonio Villa, e ao artigo paranóico de José Serra.
Entretanto, o primeiro dia de 2012 amanheceu com editoriais e colunas que negavam o teor dos primeiros.
Por exemplo, a Folha publicou, neste domingo, um editorial intitulado “Dilma, ano 1″, surpreendentemente favorável ao governo petista, e não só à gestão Dilma como também à anterior, de Lula.
Confira os dois primeiros parágrafos:
A administração se saiu bem em vários aspectos, mas falta arrojo para desatar nós que emperram a economia e elevar o padrão da educação.
Sucessora de um presidente que fez bom governo e deixou o cargo sob consagração popular, era natural que Dilma Rousseff pautasse sua estreia pela continuidade. Devia o cargo à indicação de Lula, de quem herdou até mesmo boa parte do ministério.
No Globo de domingo, encontrei duas colunas, escritas por personalidades muito influentes da área cultural, que citam elogiosamente o livro de Amaury Ribeiro, que dias antes havia sido tratado com desprezo e até mesmo ódio por outros colunistas do mesmo jornal.
Aldir Blanc abre sua coluna de domingo de maneira impiedosa:
Abro a cortina do passado para melhor encarar 2012. Estou lendo “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro Jr, nos contando sobre o Brasil de FHC I e II, “vendendo tudo”, principalmente o que pertencia a nosotros. Não adianta nhe-nhe-nhem porque o jornalista e escritor tem três prêmios Esso, quatro Vladmir Herzog, e sofreu um sério atentado, investigando assassinatos de menores pelo tráfico no entorno de Brasília. O livro contém lama para mensalão nenhum botar defeito. Só um tira-gosto: o insuspeito Nobel de Economia (2001) J. Stiglitz cunhou o termo “briberzation”, ao invés de privatization. Bribe é coisa roubada, na gíria de ladrões ingleses, desde o século XIV. Infelizmente, não achei, durante a leitura, nada sobre um pretenso compêndio escrito pelo Serra, sob pseudônimo: “O ócio de Aécio no cio”.
Talvez embalada pelo slogan da tucanagem, “vender tudo”, a operadora de telemarketing, amiga de Adriano Ruínas do Imperador, tenha se apresentado — Luzes! Ação! — para depor na delegacia com aquele modelito Das pu Bangu Trois. Gastando um pouquinho meu francês aprendido na Praça Paris foi vraiment une efemèrde.
O outro colunista global que cita o livro é ninguém menos que Caetano Veloso, que aborda o tema, porém, de maneira bem mais comedida que Blanc e compensando com uma tremenda rasgação de seda em prol de Fernando Henrique Cardoso.
Dizem que 2011 foi o ano do livro “A privataria tucana”. (…) “A privataria tucana” tem estilo jornalístico vibrante.
Ainda no domingo, Jânio de Freitas faz uma referência sarcástica e algo misteriosa ao texto de Villa:
Por fim, Marco Aurélio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos e colaborador de jornais, escreve que o best-seller “A privataria tucana”, do repórter Amaury Ribeiro Jr., “foi produzido nos esgotos do Palácio do Planalto”.
Aí há duas possíveis metáforas e uma informação. As primeiras são “nos esgotos” e o próprio historiador e professor de história. É a informação que justifica o desejo inalcançável: ver provar-se, por qualquer meio inequívoco, que “A privataria tucana” “foi produzido” no Palácio do Planalto, mesmo que na garagem ou no abrigo das emas.
Com essas referências, pode-se dizer que o livro de Amaury, o grande acontecimento político do segundo semestre de 2011, finalmente conseguiu romper o bloqueio midiático e provocou um alvoroço interessante, forçando colunistas e intelectuais a tirarem a máscara, oferecendo ao leitor uma postura editorial confusa, contraditória, mas extremamente saudável do ponto-de-vista democrático.
O Cafezinho inicia o ano com mudanças. Agora todos os posts têm algum conteúdo livre. A primeira análise de mídia vem mais concisa e publicada cedo, por volta das 7 horas. Os outros posts serão publicados até o meio dia.
Nas últimas semanas do ano passado, os jornais publicaram alguns textos pesadamente oposicionistas, a maior parte deles ainda refletindo as emoções despertadas com a publicação do livro Privataria Tucana. Refiro-me, especificamente, aos textos quase histéricos de Merval Pereira e Marco Antonio Villa, e ao artigo paranóico de José Serra.
Entretanto, o primeiro dia de 2012 amanheceu com editoriais e colunas que negavam o teor dos primeiros.
Por exemplo, a Folha publicou, neste domingo, um editorial intitulado “Dilma, ano 1″, surpreendentemente favorável ao governo petista, e não só à gestão Dilma como também à anterior, de Lula.
Confira os dois primeiros parágrafos:
A administração se saiu bem em vários aspectos, mas falta arrojo para desatar nós que emperram a economia e elevar o padrão da educação.
Sucessora de um presidente que fez bom governo e deixou o cargo sob consagração popular, era natural que Dilma Rousseff pautasse sua estreia pela continuidade. Devia o cargo à indicação de Lula, de quem herdou até mesmo boa parte do ministério.
No Globo de domingo, encontrei duas colunas, escritas por personalidades muito influentes da área cultural, que citam elogiosamente o livro de Amaury Ribeiro, que dias antes havia sido tratado com desprezo e até mesmo ódio por outros colunistas do mesmo jornal.
Aldir Blanc abre sua coluna de domingo de maneira impiedosa:
Abro a cortina do passado para melhor encarar 2012. Estou lendo “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro Jr, nos contando sobre o Brasil de FHC I e II, “vendendo tudo”, principalmente o que pertencia a nosotros. Não adianta nhe-nhe-nhem porque o jornalista e escritor tem três prêmios Esso, quatro Vladmir Herzog, e sofreu um sério atentado, investigando assassinatos de menores pelo tráfico no entorno de Brasília. O livro contém lama para mensalão nenhum botar defeito. Só um tira-gosto: o insuspeito Nobel de Economia (2001) J. Stiglitz cunhou o termo “briberzation”, ao invés de privatization. Bribe é coisa roubada, na gíria de ladrões ingleses, desde o século XIV. Infelizmente, não achei, durante a leitura, nada sobre um pretenso compêndio escrito pelo Serra, sob pseudônimo: “O ócio de Aécio no cio”.
Talvez embalada pelo slogan da tucanagem, “vender tudo”, a operadora de telemarketing, amiga de Adriano Ruínas do Imperador, tenha se apresentado — Luzes! Ação! — para depor na delegacia com aquele modelito Das pu Bangu Trois. Gastando um pouquinho meu francês aprendido na Praça Paris foi vraiment une efemèrde.
O outro colunista global que cita o livro é ninguém menos que Caetano Veloso, que aborda o tema, porém, de maneira bem mais comedida que Blanc e compensando com uma tremenda rasgação de seda em prol de Fernando Henrique Cardoso.
Dizem que 2011 foi o ano do livro “A privataria tucana”. (…) “A privataria tucana” tem estilo jornalístico vibrante.
Ainda no domingo, Jânio de Freitas faz uma referência sarcástica e algo misteriosa ao texto de Villa:
Por fim, Marco Aurélio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos e colaborador de jornais, escreve que o best-seller “A privataria tucana”, do repórter Amaury Ribeiro Jr., “foi produzido nos esgotos do Palácio do Planalto”.
Aí há duas possíveis metáforas e uma informação. As primeiras são “nos esgotos” e o próprio historiador e professor de história. É a informação que justifica o desejo inalcançável: ver provar-se, por qualquer meio inequívoco, que “A privataria tucana” “foi produzido” no Palácio do Planalto, mesmo que na garagem ou no abrigo das emas.
Com essas referências, pode-se dizer que o livro de Amaury, o grande acontecimento político do segundo semestre de 2011, finalmente conseguiu romper o bloqueio midiático e provocou um alvoroço interessante, forçando colunistas e intelectuais a tirarem a máscara, oferecendo ao leitor uma postura editorial confusa, contraditória, mas extremamente saudável do ponto-de-vista democrático.
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