quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

“Pó pará, Aécio”. A guerra no esgoto

Por Altamiro Borges

Em 28 de fevereiro de 2009, o Estadão publicou um texto que atiçou a guerra de bastidores entre os dois pré-candidatos do PSDB à Presidência da República. Assinado pelo falecido colunista Mauro Chaves, ele recebeu título provocador: “Pó pará, governador”. O objetivo do jornal serrista era pressionar Aécio Neves a desistir da disputa interna e aceitar o papel de vice na chapa tucana.

Conforme relata Amaury Ribeiro Jr., no best-seller “A privataria tucana”, o artigo e os indícios sobre a contratação de arapongas para espionar o governador mineiro azedaram de vez as relações no PSDB. O jornalista, que já investigava há vários anos a lavagem de dinheiro da corrupção nas privatizações durante o reinado de FHC, foi acionado pelo jornal Estado de Minas para "dar o troco"!

"Insinuação pesada" do jornal serrista

“Sem nunca ter ocultado seu serrismo, o Estadão dispensou o protocolo e disparou um torpedo visando atingir a pré-candidatura de Aécio abaixo da linha-d’água. Contrastando com a linha conservadora do jornal, instilou uma insinuação pesada, uma suposta ligação de Aécio ao “Pó”, ou seja, cocaína”, avalia Amaury Ribeiro logo na apresentação do seu livro.

A reação do jornal mineiro foi imediata. No editorial “Minas a reboque, não!”, ele retrucou: “Indignação. É com esse sentimento que os mineiros repelem a arrogância de lideranças políticas que, temerosas do fracasso a que foram levadas por seus próprios erros de avaliação, pretendem dispor do sucesso e do reconhecimento nacional construído pelo governador Aécio Neves”.

Bicadas tucanas seguem sangrentas

A guerra estava declarada e penas voaram para todos os lados. O governador mineiro rejeitou o papel subalterno de vice do rival paulista e fez corpo mole durante a campanha presidencial de 2010. Amaury Ribeiro, por sua vez, prosseguiu na pesquisa sobre a privataria tucana. Temendo os estragos, a mídia de São Paulo difundiu que seu livro era um dossiê “petista”. Pura malandragem!

A eleição passou, mas as bicadas tucanas prosseguem. Com a publicação do livro, as tensões internas só cresceram. José Serra, na reunião da executiva do PSDB na véspera do Natal, explicitou que a obra é fruto do “fogo amigo” no interior do partido. Já Aécio Neves se finge de morto, tentando pavimentar seu caminho para a disputa presidencial de 2014. Mas a empreitada não será fácil.

Um senador frustrante

Nesta semana, dois jornais paulistas voltaram à carga, de maneira inusitada, contra o tucano mineiro. O jornal Valor, das famiglias Marinho e Frias, publicou hoje longa reportagem sobre o péssimo mandato do senador Aécio Neves. Reproduzo alguns trechos:

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O senador e pré-candidato a presidente da República Aécio Neves (PSDB-MG) frustrou as expectativas não apenas por omitir-se na elaboração de um projeto nacional para a oposição. Também no Senado Federal, neste primeiro ano do seu mandato, ele não conseguiu levar adiante as propostas que apresentou.

Foram nove projetos de lei, uma proposta de emenda constitucional e 14 pedidos de informações a ministérios que sequer se aproximaram do estágio de votação. O insucesso esteve até nas emendas a projetos do governo, que costumam tramitar mais rápido na Casa. Das doze emendas que apresentou, apenas quatro obtiveram êxito...

Todas suas outras propostas não tiveram apreciação final. Algo previsível para um parlamentar de oposição, como ele. Mas para alguém considerado o principal adversário do PT em 2014, cujo maior mérito lembrado pelos políticos é a habilidade, o resultado final pífio põe em dúvida se essa característica o favorece num cenário de adversidade...


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"Blá-blá-blá mineiro"

Se o artigo do Valor é mais jornalístico, apontando as limitações do senador mineiro, o texto da Folha de 29 de dezembro lembra muito as insinuações maliciosas de Mauro Chaves. Assinado pelo articulista Rogério Gentile, ele já é venenoso no título: “Blá-blá-blá mineiro”. Reproduzo-o na íntegra:

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Já está virando regra. É só o fim de ano se aproximar que o senador mineiro Aécio Neves repete o mantra de que é necessário "refundar o PSDB".

A primeira vez foi em 2010, logo após a eleição da presidente Dilma Rousseff. Ansioso para herdar a posição de José Serra no partido, Aécio disse que o PSDB deveria refazer e atualizar seu programa para "recuperar sua identidade".

Como isso não ocorreu e, aparentemente, não surgiu outra ideia para tirar a sigla da letargia pós-FHC, Aécio voltou à carga às vésperas deste Natal, acrescentando apenas que o PSDB precisa “andar de cabeça erguida, discutindo as grandes questões nacionais e propondo uma nova agenda para o Brasil”.


Blá-blá-blá à parte, Aécio encerra 2011 sem ter conseguido se firmar como a principal referência da oposição no país. Teve dificuldades para se movimentar em um Senado dominado amplamente pelos aliados do governo, não apresentou nenhuma proposta de repercussão, tampouco soube se desemaranhar da briguinha partidária com Serra.

Sem conseguir se impor politicamente, precisou dar declarações à imprensa lembrando que está à disposição do partido para disputar a próxima eleição presidencial.

Faltando tanto tempo assim e, sobretudo por se tratar de um político mineiro, neto de Tancredo Neves, soou muito mais como se ele tivesse algum receio de ser esquecido.

Aécio tem demonstrado confiar em um futuro racha na base do governo para viabilizar-se para 2014. Cultiva boas relações com o PSB do governador Eduardo Campos (PE) e o PSD do prefeito Gilberto Kassab (SP) por entender que, se Dilma perder parte de sua popularidade até a eleição, os partidos poderão apoiá-lo.

Mas política não se faz apenas na base da calculadora. Se o senador não conseguir se mexer no Congresso e no PSDB, corre o risco de chegar sem fôlego à sucessão presidencial.


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Por que a mídia paulista está tão arisca com o senador mineiro? Teme que, se eleito presidente, Aécio se vingue das suas baixarias e não seja bondoso nas verbas publicitárias, como ocorre há duas décadas com os governos tucanos de São Paulo? É o retorno da velha disputa entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais? Ou é expressão acabada apenas da grave crise da direita no Brasil?
do Altamiro Borges

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