terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Por dentro da Privataria Tucana

Serra usou arapongas pagos com dinheiro público para espionar adversários. Investigando as privatizações de FHC, uma grande lavanderia de dinheiro surge com nomes do círculo mais próximo a Serra.

O objetivo deste artigo e de demais que pretendo publicar é revelar para quem ainda não leu ou não conseguiu comprar o livro, as graves acusações comprovadas pela obra investigativa, “A Privataria Tucana”, que devem servir de base para uma CPI, já com assinaturas suficientes de mais de Deputados, coletadas pelo Deputado Federal Protógenes Queiróz em 21 de dezembro último. Protógenes foi o delegado da Polícia Federal, responsável pela operação Satiagraha que prendeu o banqueiro do Opportunity, Daniel Dantas. O mesmo banqueiro foi solto graças á intervenção do então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, amigo de Serra. Dantas será personagem de destaque no livro.

A Guerra entre Serra e Aécio pela candidatura à Presidência
Amaury Ribeiro Jr. é um jornalista investigativo com muitos prêmios em sua carreira e que chegou a sobreviver a um atentado quando denunciou traficantes envolvidos com assassinatos de jovens nos arredores de Brasília. Em dezembro de 2007, enquanto se recuperava do tiro no abdômen, da cirurgia e da depressão pós-traumática, foi chamado pelo jornal o Estado de Minas, do mesmo conglomerado do Correio Braziliense em que trabalhava. Seu trabalho seria descobrir quais eram os arapongas que vasculhavam a vida do governador mineiro pelo PSDB, Aécio Neves, em seus roteiros amorosos na cidade do Rio de Janeiro. Aécio seria vigiado e seguido por homens de Serra que queria eliminar o concorrente à candidatura à Presidência da República no PSDB. Com um dossiê em mãos contra seu rival tucano, Serra teria chantageado Aécio para abandonar a disputa. Tais informações partiram, na época, da própria assessoria do governo mineiro ao jornal, que conforme Amaury, é Aecista de corpo e alma.

Os arapongas de Serra (pagos com dinheiro público) e o jogo sujo contra adversários dentro e fora do PSDB
Com a pauta em mãos, Amaury buscou informações com seu amigo Idalberto Matias de Araújo, o agente Dadá, do Serviço de Inteligência da Aeronáutica (Cisa), que já o havia ajudado no caso dos traficantes em Brasília. Dadá apurou que o trabalho de campo da campanha serrista para complicar Aécio era chefiado por um homem da Agencia Brasileira de Inteligência (Abin) Luiz Fernando Barcellos. Conta Amaury: “Conhecido como ´agente Jardim´, Barcellos teria sido levado para o grupo de inteligência de Serra pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB/RJ)2, também delegado da Polícia Federal e casado com uma prima do tucano Andrea Matarazzo1, amigo de Serra há muitos carnavais.”
A informação de Dadá veio do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa, que na campanha eleitoral de 2010 foi personagem trazido pelo imprensa serrista para desqualificar as informações bombásticas que o livro de Amaury traria a público. O delegado
trabalhara com Barcellos (Agente Jardim) no núcleo de inteligência que Serra montara com dinheiro público quando ministro da Saúde, dentro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na época de Serra Ministro, Itagiba2 comandava o núcleo, a princípio para investigar os laboratórios acusados de fraudar os medicamentos genéricos. Porém, era pretexto para bisbilhotar funcionários do Ministério, como publicou a imprensa naqueles anos, o que levou à demissão do agente do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI) por Serra conforme Diário Oficial da União da época. O próprio Ministro de FHC, o tucano Paulo Renato, foi alvo de Serra.

As privatizações e os esquemas de lavagem de dinheiro
Amaury entregou ao jornal Estado de Minas um relatório sobre o funcionamento da inteligência
da campanha de Serra, porém, decidiu aprofundar as investigações. Foi quando retomou ao tema pelo qual já se debruçara antes, inclusive quando escrevia para a IstoÉ e para a sucursal de O Globo em São Paulo: “a Era das Privatizações, sob a égide do presidente Fernando Henrique Cardoso, particularmente os negócios que se deram na área das telecomunicações.” Amaury fez “uma varredura em cartórios de títulos e documentos, além de juntas comerciais de São Paulo e do Rio”. Conseguiu mapear como o ex-diretor da área internacional do Banco do
Brasil, Ricardo Sergio de Oliveira, e outros “alunos” com presença expressiva de tucanos paulistas, tratavam as empresas e o dinheiro no Brasil e nos paraísos fiscais do Caribe.

Além do tesoureiro de campanha de Serra, surge seu genro no esquema
Ricardo Sergio, ex-tesoureiro das campanhas eleitorais de Serra e de FHC, operava o dinheiro de forma que ele saía do país como se tratasse de investimentos em empresas estrangeiras e voltava para o Brasil, após passar por paraísos fiscais, também como investimentos externos em empresas nacionais, driblando os órgãos fiscalizadores, tratando-se de uma lavagem, ou melhor, internação de dinheiro. Apesar de parecer se tratar de origens e destinos diferentes, nas duas pontas da operação estava Ricardo Sérgio. Era dessa forma também que atuava a quadrilha da “advogada Jorgina de Freitas, que ganhou notoriedade por fraudar a Previdência Social em mais de R$ 1 bilhão”. Também por documentos da Junta Comercial de São Paulo, na Justiça e nos cartórios de títulos, e documentos da cidade, Amaury encontrou em 2008, novo personagem: Alexandre Bourgeois, genro de Serra, usando a metodologia “bolada pelo ex-tesoureiro do sogro”. Logo após a privatização das empresas de telecomunicações, Bourgeois abriu no mesmo paraíso fiscal, duas empresas offshores, que operavam no mesmo escritório utilizado por Ricardo Sergio nas Ilhas Virgens Britânicas.

Serra e Aécio apresentam as armas: os jornais paulistas e mineiros
O autor de “A privataria tucana” chamou de tolice sua iniciativa de telefonar para a assessoria de imprensa do governador paulista, buscando seu pronunciamento sobre o assunto. Serra tentou barrar a matéria quando ainda estava sendo apurada. Ao descobrir que era conduzida pelo Estado de Minas, “Serra quis falar com a direção do jornal e com a irmã do governador Andrea Neves, sem sucesso”, procurando então, diretamente a Aécio, para aparar arestas. Apesar de ter aparentemente  funcionado, era necessário aplacar “o comando do jornal mineiro, inconformado com a arapongagem de Itagiba e com o artigo ´Pó pará, governador´, plantado pela entourage de Serra em O Estado de S. Paulo, para desgastar o governador mineiro”. Em fevereiro de 2009, o falecido colunista Mauro Chaves, ironizou a intenção de Aécio definir por prévias no PSDB quem seria o candidato. O jornal Serrista dispensou o protocolo e disparou um torpedo para derrubar a pré-candidatura de Aécio.
Divergindo da linha conservadora do jornal, o artigo insinuava uma suposta ligação de Aécio ao “Pó” (cocaína) para expô-lo, “de modo vulgar e dissimulado, o comportamento do rival de Serra e enviar -lhe um recado muito claro”.

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Serra ataca por meio do Estadão e…

O jornal Estado de Minas não engoliu o artigo do Estadão “Pó pará, governador”, ainda mais por acusar as relações entre os jornais mineiros e Aécio, comparando com São Paulo, onde Serra e e outros tucanos seriam, segundo o responsável pelo artigo, “cobrados” pelos jornalões de São Paulo. Por vingança e indignados, os mineiros repeliram “a arrogância de lideranças politicas que, temerosas do fracasso a que foram levados por seus próprios erros de avaliação, pretendem dispor do sucesso e do reconhecimento nacional construído pelo governador
Aecio Neves” já no início do editorial ”Minas a reboque, não!”, do Estado de Minas, em março de 2010, rejeitando um eventual papel subalterno de Aécio para enfrentar Dilma Rousseff.

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Aécio retruca pelo Estado de Minas: “Minas a reboque, não!”

Cenas dos próximos capítulos: a filha, o primo e ex-sócios de Serra
Muitos outros personagens e maneiras de ganhar dinheiro surgem nos capítulos do livro que revela bastidores do episódio que, segundo o autor,foi um “assalto ao patrimônio público do país por meio das privatizações”. Mais sobre “a filha Veronica Serra, seu genro Alexandre Bourgeois, seu primo politico Gregório Marin Preciado, seus muitos sócios, seus amigos e seus
colaboradores. E outros tucanos de altos poleiros.”

1 “De 1999 a 2001, foi ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e embaixador do Brasil em Roma, entre 2001 e 2002. Em 2005, entrou na administração municipal de São Paulo como subprefeito da Sé na gestão de José Serra, Assumiu também, em 2006, a Secretaria Municipal de Serviços, como subprefeito da Sé e secretário (de Coordenação das Subprefeituras) na gestão de Gilberto Kassab. A partir de 2008, manteve-se apenas como secretário até o início de setembro de 2009, quando teve seu pedido de demissão aceito por Kassab. Atualmente é Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, do Governo Geraldo Alckmin.” (Wikipédia) – foi acusado pelos movimentos sociais, incluindo pelo militante Padre Júlio Lancelotti de promover políticas de higienização social.
2 Marcelo Itagiba foi acusado na CPI das Milícias “de ter feito campanha na favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, durante sua gestão como Secretário de Segurança Pública, com apoio do grupo paramilitar que controla a região. O relatório final da CPI apontou que a ação das milícias cresceu enormemente durante sua gestão como Secretário de Segurança Pública.” (Wikipédia)

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